
Alan Marques/Folha
Sem alarde, Fernando Collor (PTB) perscruta as chances de retornar ao governo de Alagoas em 2010.
Um dos entusiastas da candidatura de Collor é Renan Calheiros, líder do PMDB no Senado.
Renan fora aliado do Collor presidente. Tornara-se adversário do Collor varejado por corrupção. Virara inimigo do Collor do impeachment.
Mandara ao freezer o Collor do ostracismo. Por fim, Renan descongelou suas relações com o Collor redivivo do Senado.
Um Collor surpreendente, agora aliado do mesmo Lula que derrotara, com métodos heterodoxos, nas urnas presidenciais de 20 anos atrás.
Tenta-se pôr de pé, ao redor deste “novo” Collor, uma coligação de pelo menos nove partidos: PTB, PMDB, PR, PCdoB, PT, PMN, PRB, PSC e PP.
São legendas que, em Brasília, integram o consórcio partidário que gravita ao redor de Lula.
Algo que permitiria a Collor oferecer seu eventual palanque alagoano a Dilma Rousseff, a presidenciável de Lula e do PT.
Renan estimula a candidatura Collor de olho na composição da chapa, que integraria numa das duas vagas destinadas aos candidatos ao Senado.
Move-se por pragmatismo. No caminho de sua reeleição há duas pedras. A julgar pelas pesquisas alagoanas, o par de pedras tem potencial para deixar Renan sem mandato.
Chama-se Heloisa Helena a primeira rocha. Ex-senadora, candidata derrotada à Presidência em 2006, virou vereadora de Maceió em 2006.
Presidente nacional do PSOL, HH está decidida a retornar ao Senado. Desistiu de brigar pelo Planalto.
Tenta enfiar o seu partido dentro da candidatura presidencial da amiga Marina Silva (PV).
O outro adversário de Renan é o ex-governador alagoano Ronaldo Lessa (PDT). Frequenta as pesquisas como segundo colocado na corrida ao Senado, atrás de HH.
Até o início de 2009, Renan embalava uma aliança com o atual governador de Alagoas, o tucano Teotônio Vilela.
Candidato à reeleição, Teotônio tornou-se um azarão. Coleciona índices mirrados de intenções de voto. Coisa na casa dos 5%.
Renan enxerga em Collor –dono de um jornal, de uma TV que repete em Alagoas o sinal da Globo e de uma rede de rádios— um candidato mais viável que Teotônio.
Tomado pelas pesquisas, só haveria um político em Alagoas capaz de deter o retorno de Collor ao governo estadual.
Chama-se Cícero Almeida. É filiado ao PP, outro sócio minoritário do consórcio partidário de Lula.
Em 2008, Cícero foi à cadeira de prefeito da capital, Maceió, numa votação em que beliscou notáveis 81,5% dos votos válidos.
Nas pesquisas para o governo, Cícero coleciona algo como um terço dos votos dos alagoanos. Mais do que Collor, que oscila entre 20% e 25%.
Cícero hesita, porém, em embrenhar-se na disputa pelo governo. Sabe que enfrentará, além de Collor, o conglomerado de mídia e os arranjos políticos que estão por trás dele.
Receia perder a cadeira de prefeito, da qual teria de se separar por renúncia, e arrostar uma derrota na briga pelo governo.
Por ora, tampouco Collor se assume como candidato. Mas todo o aparato político que gravita ao seu redor move-se como se a candidatura fosse incontornável.
Escrito por Josias de Souza às 06h41